quarta-feira, 11 de março de 2009

RELATO DE EXPERIÊNCIA

RELATO DE EXPERIÊNCIA:
INCLUSÃO MATEMÁTICA: UMA POSSIBILIDADE REAL
Eliane Elias Ferreira dos Santos
Íris D’arc da Silva Pacheco

Respeitar as diferenças individuais e a diversidade cultural existente é uma exigência não só na escola, mas também na sociedade e configura-se como um grande desafio para nós educadores. Entendendo que é papel da Matemática, contribuir para a inserção das pessoas no mundo do trabalho, e que esta inserção passa também por atender necessidades diárias básicas tais como fazer compras, relacionar-se conscientemente com o dinheiro, nossa experiência consiste basicamente em romper com as barreiras de memorização da tabuada e utilizar a calculadora como recurso didático-pedagógico. Este trabalho é um relato de experiência, considerada bem sucedida, de incluir uma criança portadora de necessidade especial.
Entendemos que todos os seres humanos possuem necessidades especiais, mas aqui, para efeito deste relato, estamos nos referindo às crianças que não conseguem Ter uma aprendizagem satisfatória, do ponto de vista do professor. O nosso foco é uma criança que aparentemente demonstra construir os conhecimentos no momento das discussões coletivas. Entretanto, os sabores não são por ela apreendidos, são “perecíveis” pouco duradouros.
A referida aluna não consegue memorizar e socializar o que aprendeu, sua capacidade de retenção é apenas momentânea. Este fato é mais evidente no que diz respeito á construção dos fatos fundamentais e sua utilização nas quatro operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão). Houve um tempo em que memorizar a tabuada (“saber de cor”) era condição sine qua non para o êxito na Matemática e consequentemente na escola, já que grande parte do fracasso escolar era (e ainda é) atribuída a esta disciplina. Felizmente pesquisas têm apontado novos caminhos para a construção do conhecimento matemático.
Entre as novas tendências para “fazer matemática” de forma significativa, na sala de aula está a utilização de recursos tecnológicos. Decidimos então, colocar a tecnologia a favor do conhecimento: sugerimos que a aluna utilizasse a calculadora para fazer as operações. Devido a popularização dos preços a calculadora tornou-se um recurso de fácil aquisição, o que viabiliza nossa decisão. Nosso objetivo era que o esforço mental se concentrasse nas estratégias para a solução das situações-matemáticas, evitando um desgaste emocional por não conseguir efetuar as operações.
É importante ressaltar que os sabores prévios adquiridos pelo senso comum, associados a alguns saberes que a aluna tinha construído na escola permitia, na maioria das vezes, que ela criasse estratégias próprias para a solução das situações-matemáticas, ficando impedida de concretizar a solução pela ausência dos fatos fundamentais. Queremos registrar também, que não se trata do uso indiscriminado da calculadora, as atividades propostas são contextualizadas, baseadas em fatos cotidianos reais, buscam integrar o ser humano na sociedade numa perspectiva de construção efetiva da cidadania.
A utilização monitorada, diversificando as formas de resolver as operações matemáticas, é uma tentativa de evitar a dependência deste recurso em detrimento do raciocínio e da criatividade. O que nos levou a ter esta atitude foi entre outras razões a percepção humana da situação: pois se trata de uma criança negra, pertencente a uma camada sócio-econômica menos favorecida, se não tentássemos incluí-la, estaríamos colaborando, com toda certeza, para sua exclusão da escola. Não sabemos o que acontecerá com ela nos anos vindouros, mas nós que nesse momento nos responsabilizamos por ela, certamente não contribuímos para o seu fracasso. Esse sentimento desmotiva e entristece o aluno, ao contrário, a possibilidade de sucesso cria novas expectativas, estimula e estabelece um novo pacto com a construção do conhecimento. É a possibilidade rela de integrar o grupo. Para nós, educadoras, representa a oportunidade de mostrar que é possível respeitar as diferenças e trabalhar a partir delas, constatando que elas enriquecem o grupo. No caso relatado, temos observado que a criança melhorou sua auto-estima por que tem tido resultados mais satisfatório. Acreditamos ter encontrado um caminho possível para a inclusão desta aluna. Pensamos que aceitar passivamente o fracasso desta (e de muitos outros) alunas (os), é aceitar o nosso próprio fracasso, a nossa própria estagnação enquanto educadoras.

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